quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Cartas de Maria Magdalena ao Mundo

"Quero lhe falar de forma singela, mas nem sempre consigo.
Sou a noiva que espera, abnegada, pela primavera.
Só posso me casar quando o trigo puder se tornar pão.
Meu véu foi retirado de meus olhos quando minhas asas se abriram pela primeira vez.
Tornei-me transparente.
Há solidão na transparência, assim como há nostalgia no bater de minhas asas.
Com elas crio o vento, revolvo o mistério, espalho-o pelo mundo.
Mas, do Mistério só conheço o gosto, não posso ver-lhe o rosto.
Como será o noivo que caminhará em minha direção?
Sei que será aquele que saiba decifrar o meu olhar.
Para ele escondi meu buquê de rosas vermelhas.
Por agora sou branca, sou pura, sou brisa.
Quando o tempo chegar, meu voo criará redemoinhos, minhas mãos doarão o vermelho,
e meu olhar brilhará a Constelação do Grande Cão.
Até lá, entrego-me ao voo suave. 
Aguardando a revelação de sua face no espelho."


a experiência humana


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