terça-feira, 26 de fevereiro de 2013







O casamento do desejo e intoxicação 


Segundo a lenda, o cânhamo e a árvore maurá são marido e mulher. Em outros tempos eles eram seres humanos, amantes proibidos de se casar por pertencerem a castas diferentes. 

Recusaram-se a se separar e foram para o fundo da selva, onde se mataram. No lugar em que morreram, renasceram como plantas. Diante da beleza de seu amor, Shankar Bhagwan, o criador, chamou-os de ganja e maurá, cânabis e álcool. 


a experiência humana

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


       Vinicius de Moraes - Procura-se um amigo
Procura-se um amigo.
Não precisa ser homem,
basta ser humano,
basta ter sentimento,
basta ter coração.

Precisa saber falar e calar,
sobretudo saber ouvir
o que as palavras não dizem.

Tem que gostar de poesia,
de madrugada, de pássaros,
das estrelas, do sol, da lua,
do canto dos ventos
e das canções da brisa.

Deve ter amor,
um grande amor por alguém,
ou então sentir falta de não ter esse amor.

Deve amar o próximo e respeitar a dor
que os passantes levam consigo.

Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão,
nem é imprescindível que seja de segunda mão.

Pode já ter sido enganado,
pois todos os amigos são enganados.
Não é preciso que seja puro,
nem que seja de todo impuro,
mas não deve ser vulgar.
Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e,
no caso de assim não ser,
deve sentir o grande vácuo que isso deixa.

Tem de ter ressonâncias humanas,
seu principal objetivo deve ser o de amigo.

Deve sentir pena das pessoas tristes
e compreender o imenso vazio dos solitários.

Deve gostar de crianças
e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos,
que se comova quando chamado de amigo.

Que saiba conversar de coisas simples,
de orvalhos, de grandes chuvas
e das recordações da infância.

Preciso de um amigo para não enlouquecer,
para contar o que vi de belo
e triste durante o dia,
dos anseios e das realizações,
dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas,
de poças d´água e de caminhos molhados,
de beira de estrada, de mato depois da chuva,
de se deitar no capim.

Preciso de um amigo que diga que vale a
pena viver,
não porque a vida é bela,
mas porque já tenho um amigo.

Preciso de um amigo para parar de chorar.

Para não viver debruçado no passado
em busca de memórias perdidas.

Que bata nos ombros sorrindo e chorando,
mas que me chame de amigo,
para que eu tenha a consciência de que ainda vivo.





a experiência humana

Na Índia, em um tempo anterior ao amor crístico de Madre Teresa e anterior ainda à passividade transformadora de Gandhi, dois amigos em um dia, dos naturais dias em que o fardo da existência deixa os corpos por demais fatigados, discutiram.
A agressividade, a falta do modo de ser gentil, doce, a imprudência de não se conhecerem a si próprios e tantos outros fatores ainda não percebidos mas se mostrando ali os levou a isso.
Para que não ficassem mágoas, tristezas um deles disse:
“Me ensina para que eu possa aprender a ouvir você, aprender a perceber os sinais do seu cansaço e eu possa oferecer repouso, aprender a sentir o sofrimento do ainda não revelado e a compartilhar da grande dor dos sofrimentos já revelados  para que você possa encontrar também alívio. Me ensina para que eu possa aprender a não parar de buscar. Me ensina o que só o amor pode fazer, para que aprendido eu possa dizer que por você eu percebi que posso amar a todos.”
Não foi na Índia e nem sei precisar o tempo em que foi. Parece que foi há tanto tempo.
E também não me lembro quem me contou isso.



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Durga e Yantras




a experiência humana

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Hoje acordei ainda noite. Vesti a armadura. Selei meu cavalo. Aos primeiros raios do sol saí pelos campos. Atravessei riachos, subi colinas e cavalguei pelos prados. Tinha decidido entre sonhos e visões me reencontrar com o rei. Quantas batalhas desmedidas na nossa última cruzada. As crenças e as diferenças. Mas que deram razão a uma vida. Mas agora minha espada embainhada estava enferrujando. Não suportava ver os beberrões nas tabernas e as orgias no castelo. Precisava novamente de uma causa para cumprir o que a minha alma me chamava. Diria ao rei para novamente sairmos e lutar, para que não ficássemos morrendo a cada dia achando que vivíamos.



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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Camões




Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
Muda-se o ser, muda-se a confiança; 
Todo o mundo é composto de mudança, 
Tomando sempre novas qualidades. 

Continuamente vemos novidades, 
Diferentes em tudo da esperança; 
Do mal ficam as mágoas na lembrança, 
E do bem, se algum houve, as saudades. 

O tempo cobre o chão de verde manto, 
Que já coberto foi de neve fria, 
E em mim converte em choro o doce canto. 

E, afora este mudar-se cada dia, 
Outra mudança faz de mor espanto, 
Que não se muda já como soía. 


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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

San Juan de la Cruz


NOCHE OSCURA

(En que cuenta el alma la dichosa ventura que tuvo en pasar por la oscura Noche de la Fe,
en desnudez y purgación suya a la unión del Amado.)

En una noche oscura,
con ansias, en amores inflamada,
¡oh dichosa ventura!,
salí sin ser notada,
estando ya mi casa sosegada.

A escuras, y segura,
por la secreta escala, disfrazada,
¡oh dichosa ventura!,
a escuras y en celada,
estando ya mi casa sosegada.

En la noche dichosa
en secreto, que naide me veía,
ni yo miraba cosa,
sin otra luz y guía,
sino la que en el corazón ardía.

Aquésta me guiaba
más cierto que la luz del mediodía,
adonde me esperaba
quien yo bien me sabía,
en parte donde naide parescía.

¡Oh noche que guiaste!
¡Oh noche amable más que el alborada!
¡Oh noche que juntaste
Amado con amada,
amada en el Amado transformada!



En mi pecho florido,
que entero para él solo se guardaba,
allí quedó dormido,
y yo le regalaba,
y el ventalle de cedros aire daba.

El aire del almena,
cuando yo sus cabellos esparcía,
con su mano serena
en mi cuello hería,
y todos mis sentidos suspendía.

Quedéme y olvidéme,
el rostro recliné sobre el Amado;
cesó todo y dejéme,
dejando mi cuidado
entre las azucenas olvidado.





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